27/06/2003

meia-lebre

Estou em semi-férias, semi-descansando. Com um pé na salmoura, outro no tênis de corrida. Minha cabeça anda semi-inconsciente e minhas orelhas leporinas deram um nó. Se ando pensando pela metade, escrevo só meias-palavras e digo meias-verdades. Contribui para isso meu pular-por-aí: vou pulando por aí, pulando, pulando, pulando, longe do computador. Lembra da minha proposta de ser mais cirenaísta? Poisé, estive longe dela, preciso voltar o quanto antes, sob a pena de tornar-me uma louca furiosa (como diria Alice) - enquanto sou apenas doida, está bom. Deixo um rastro de músicas e obras surrealistas e, quando as pernas permitirem, escrevo algo meu, semi-interessante.

26/06/2003

Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo
Melro, uirapuru

Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu

Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim

Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim

Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri

Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti

Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí

O homem vem aí

O homem vem aí

Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim

Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim

Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi

Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti

Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí

O homem vem aí

O homem vem aí

(Passaredo, Chico Buarque de Holanda & Francis Hime)


O homem vem ai


Pleasure - Renee Magritte

23/06/2003

Se você quiser, eu danço com você no pó da estrada
Pó, poeira
Ventania
Se você soltar o pé na estrada
Pó, poeira
Eu danço com você o que você dançar.

Se você deixar o sol bater nos seus cabelos verdes
Sol, sereno
Ouro e prata
Sai e vem comigo
Sol, semente
Madrugada
Eu vivo em qualquer parte do seu coração.

Se você quiser, eu danço com você - meu nome é nuvem
Pó, poiera
Movimento
O meu nome é nuvem
Ventania
Cor de vento
Eu vivo em qualquer parte do seu coração,
Se você deixar o coração bater sem medo.

(Se Você Quiser Eu Danço Com Você, Lô borges)

Ventania, eu danço com você.


(Spirit, Anya Nadal)


LÁ VEM A LEBRE
PULO AQUI, PULO ACOLÁ
LÁ VEM A LEBRE
PARA VER O QUE QUE HÁ.

A LEBRE LAMPEIRA
SAIU DO SARGAÇO
TOMOU A COSTEIRA
CORREU SEM CANSAÇO

DEU 'TCHAU' COM A ORELHA
SORRIU SEM DEMORA
PR'O POVO DA AREIA
DIZENDO 'SIMBÓRA'

PAROU NO CAMINHO
CORAÇÃO NA GÜELA
TOMOU UM CHAZINHO
DE SIRIGÜELA

VOLTOU PARA A TOCA
CANSADA DA VINDA
ENTROU NO SEU BLOGUE
PRA FALAR DA VIDA.

17/06/2003

Atualizações

§ Hoje o Google está fazendo uma homenagem ao surrealista Escher:

10/06/2003

Vi, nos olhos do gato, a sua ira.
Crispadas,
suas mãos promoviam o paradoxo do afago.
Retesados, os músculos do felino
pronto para a fuga
denunciavam seu ânimo.

Como o bicho, submeti-me às suas garras,
submisso que sou, por livre vontade,
para meu gozo perigoso, aos seus desejos.

Vejo o seu sorriso vitorioso.
Compraz-me saber que, derrotado,
terei em troca o prazer:
prêmio de consolação,
mais valioso que o do orgulho da vitória.

Prefiro o seu carinho à glória e o seu amuo.
Rendo-me e rio,
um riso íntimo e silencioso
que a expressão não denuncie.

(Rendição, Fred Matos)



(In the Cat's Mouth, Pangorda)

04/06/2003

últimas:

§ Querem ver como é esta Lebre que vos fala? Tem homenagem ao Surrealismo dos Atos no blog do Linguado, com direito a foto minha e tudo;

§ Vejam o que o meu psyco favorito andou aprontando com o Surrealismo dos Atos.

§ Linkou o Surrealismo: Le Place Absurdo.

03/06/2003

Esse vai para meu caro Observador, que me lembrou o quanto gosto desta música:

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela é bonita
Tem um olho sempre a boiar
E outro que agita

Tem um olho que não está
Meus olhares evita
E outro olho a me arregalar
Sua pepita

A metade do seu olhar
Está chamando pra luta, aflita
E metade quer madrugar
Na bodeguita

Se seus olhos eu for cantar
Um seu olho me atura
E outro olho vai desmanchar
Toda a pintura

Ela pode rodopiar
E mudar de figura
A paloma do seu mirar
Virar miúra

É na soma do seu olhar
Que eu vou me conhecer inteiro
Se nasci pra enfrentar o mar
Ou faroleiro

Amo tanto e de tanto amar
Acho que ela acredita
Tem um olho a pestanejar
E outro me fita

Suas pernas vão me enroscar
Num balé esquisito
Seus dois olhos vão se encontrar
No infinito

Amo tanto e de tanto amar
Em Manágua temos um chico
Já pensamos em nos casar
Em Porto Rico

(Tanto Amar, Chico Buarque de Holanda)



(Galatea, Salvador Dalí)