30/05/2003

Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
E eu tenho mais de vinte anos

Eu tenho mais de mil
Perguntas sem respostas
Estou ligada num futuro blue.

Os meus pais nas minhas costas
As raízes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros

O sangue jorra pelos furos
Pelas veias de um jornal
Eu não te quero
Eu te quero mal.

Esta calma que inventei, bem sei,
Custou as contas que contei
Eu tenho mais de vinte anos

Eu quero as cores e os colírios, meus delírios
Estou ligada num futuro blue
Os meus pais nas minhas costas
As raízes na marquise
Eu tenho mais de vinte muros.

O sangue jorra pelos furos
Pelas veias de um jornal
Eu não te quero
Eu te quero mal.

(20 Anos Blue, Sueli Costa/ Vitor Martins)


(Paysage Bleu, Marc Chagall)



(Christina, Mark Ryden)



Aí está, Orlei - não tem mais Branca de Neve, mas tem a Christina, que é bonita igual.

29/05/2003

Chá de Tranqueira

§ Lebre e peixe saem para tomar chá. Finalmente, tomei um chá das cinco com minha mui amiga-adorada-idolatrada-salve-salve Peixinha. Tomamos muito chá, fumamos à rodo, conversamos sobre tudo e nada e o meio do caminho, rolamos pra lá e pra cá de tanto rir - e o chão do lugar ficou limpinho depois que saímos de lá, Peixinha?! - foi lindo.

§ BOLACHA WAFER SABOR CHOCOLATE BRANCO?? QUE SIGNIFICA ISSO? Comprei errado. Morango foi o escolhido, mas chocolate branco foi o pêgo. Ai de mim, que não nasci para a brandura do chocolate branco. EU QUERO ESPECIARIAS! VÊ UM WAFER DE PIMENTA POR FAVOR? Sou uma mulher dos extremos.

§ Já foram assistir Matrix? Pois eu ainda não. Eu ainda vou. E vou contar uma coisa para vocês: eu tenho um plano. Vou assistir Matrix vestida de Trinity, para as pessoas olharem para mim, me admirarem, me apontarem na rua e pensarem que saí do filme. O que? Eu sou loira? E daí? As pessoas não vão perceber isso, porque vão pensar exatamente como eu penso. Duvidam que dá certo? É, pode ser que falhe. Mas não terei sido a única a pagar mico: nos cinemas da região, em plena 5ª feira-santa-de-estréia-de-Matrix, os shoppings foram inundados por uma enxurrada de Neos e Trinitys, todos achando que eram os únicos, cheios de caras e bocas. Coragem.

§ Ai, chega. O sono está puxando um fio do meu tecido anímico, já estou quase pelada. E vocês não vão tentar dar uma de Arnaldo, né, tentando me ver assim? Olha aí. Estou bêbada de sono, treinando verdadeira escrita automática - surrealismo na veia! Vou alí, dormir loucamente. Se é que é possível dormir loucamente. 'Vou dormir feito louca, Fulano.' Existe?

27/05/2003

múltiplapersonalidade

- Deve ter alguma coisa aqui...
- Nop, não tem nada.
- ...espera, que tá emperrado...
- Poisé. Emperrado é a palavra-chave.
- ...abriu! Ave, que escuridão, dá uma luz aí.
- Então, né... Nada de brilhante.
- Acender um fósforo... Xi...! Mas tá completamente vazio!
- Poisé. O que foi que eu disse?
- Olha, tem umas coisas aqui, neste canto de cá.
- ...
- 'Semiótica'? 'Teoria da comunicação de Umberto Eco'? Que é isso?
- Prova ontem. Estudei feito louca. Fora isso, não há mais nada.
- Ah, não é possível...
- É bem possível. Acontece nas melhores cabeças.
- Puta merda...

26/05/2003

Todo anjo tem um pecado oculto doutro lado da eternidade
o céu recreia iluminuras nebulosas que cantam
mensagens celestiais de fama imorredoura,
gotas de harmonia no cérebro extasiado.

Interpretação da trilha universal
roteiros subjetivos do indivíduo
alucinações de prantos redimidos do mistério
asas absurdas nas costas da imaginação.

Um subúrbio em cada morte!
Um mundo em cada sorte!
Um vício em cada canto!
Um pestanejar selvagem de raro espanto!

Nas costas das asas imaginárias
alucinações redimidas de prantos misteriosos
e o indivíduo do retalho subjetivo inventa
uma trilha universal de versíferos coeternos.

Gotas de cérebro no silêncio absoluto
morfina hipnótica que codifica os olhos
iluminuras nebulosas inventam céus paranóicos
na eternidade oculta doutro lado do avesso.
(Avesso, Majarti)

(Claude Cahun)

23/05/2003

Armários abertos trazem boa sorte.

Dar dentes extraídos para cães roerem traz boa sorte.

Ver um oficial de exército dá azar;
segure seu nariz até que ele termine de passar.

Guarde as espinhas de uma sardinha que você tenha comido durante um ano,
para garantir que não terá preocupações com dinheiro.

Olhe para o outro lado quando passar na frente de uma lavanderia,
ou terá má sorte.

Quando avistar uma bandeira, dê as costas e cuspa,
para evitar o mau-olhado.

Para boa sorte, quebre os palitos de dentes antes de usar.

Ao passar por uma delegacia, espirre bem forte para evitar infortúnio.

(Novas Superstições, Benjamin Peret)


(I Am We, James W. Sebor)
Você já conheceu o Surrealismo nas artes plásticas - eu diria que 75% das obras apresentadas neste site são surrealistas, assim como já disponibilizei, igualmente, imagens de algumas esculturas. Já dei algumas indicações de Surrealismo no cinema. Recentemente, introduzi-lhe o Surrealismo na fotografia - basta que desça ao post anterior e ao do sábado passado, dia 17 de maio, para admirar dois belos exemplares. Os textos de escrita automática e literatura surrealista, você já conhece desde o começo deste blog, assim como vários trabalhos de designers surrealistas. Creio que só ficou faltando o surrealismo na arquitetura, na culinária e na música.
Para diminuir esta dívida com meus curiosos leitores, dedico este post à música.

Música e Surrealismo

Quais músicas surrealistas você conhece?
Nenhuma?
Hmmm... Acho que é aí que você se engana. Existem algumas músicas muito populares que recebem a classificação de surrealistas. Já ouviu o Boléro, de Maurice Ravel? Esta é a mais popular do estilo - difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido o famoso Bolero de Ravel. Além dela temos Assim Falou Zaratustra (Also Sprach Zarathustra), de Strauss, a Sinfonia N.º 1 (Symphonie N.º 1), de Honegger e outras tantas.
Surpreso?
Eu sei que alguns leitores travaram na parte do texto em que menciono ‘Bolero de Ravel’. "Tanto tempo ouvindo essa música, como nunca soube que é surrealista? Essa lebre deveria parar de falar incongruências e ir roer uma cenoura, cavar um buraco..."
Simples, meu caro - vou explicar tudinho para o senhor, mastigar o conceito e regurgitar na sua boca, relaxe e acompanhe...
Da mesma maneira que classificamos um quadro ou um texto como surrealista, podemos classificar uma música. Ela não precisa ter nascido junto com o movimento surrealista, na época exata de Breton e Dalí. Textos, pinturas e músicas surrealistas são produzidos até hoje; o estilo não morre, ele apenas classifica. Muitas pessoas não entendem exatamente quais conceitos definem uma escultura ou um quadro como sendo surreal - mesmo sendo as artes plásticas a modalidade mais conhecida e alardeada do estilo - apenas têm uma vaga intuição de que tais obras recebam este nome, só de bater o olho. Se assim ocorre com pinturas, que são concretas, palpáveis, imagine o que acontece com a música, que é muito mais sutil e requer muitos outros conhecimentos que vão além do que é visível... As pessoas apenas ouvem, sentem, gostam e pronto.
Então...

Como posso classificar uma música como surrealista? Conceitos

O Surrealismo foi um dos mais importantes movimentos do século XX. Baseia-se no princípio de que a imaginação não deve ter amarras e prima pela busca da centelha da poesia, pelas entrelinhas do inconsciente que margeiam o cotidiano e o lugar comum.
Junto com o Surrealismo, surgiu uma nova era na música, com grande força de impacto e disseminação, na primeira parte do século XX: uma era futurista. Apesar de não ter existido uma escola unificada do surrealismo para a música, muitos compositores do início da década de 20 até o fim dos anos 40 exploraram temas de examinância do fantástico, do onírico e do subconsciente, da mesma forma que os artistas e intelectuais daquela época. E estes resultados mudaram a história.

Sonoramente falando, este é um tipo de música evocativo, provocativo, forte e temperamental, mas que, geralmente, mantém um senso melódico e uma referência honesta à tradição clássica.
Para saciar totalmente a sua curiosidade, deixo aqui a sugestão de uma boa coletânea do gênero surreal:
Music of Surrealism - Desire Unbound



(Na capa do CD: Os Amantes, de René Magritte.)

Tracks:

1. Darius Milhaud - LE CARNAVAL D'AIX FOR PIANO & ORCHESTRA - mvmts. 1-4 (6:32)
2. Bela Bartók - CONCERTO FOR ORCHESTRA - Giuoco delle Coppie (6:40)
3. Maurice Ravel - BOLÉRO (13:35)
4. Richard Strauss - ALSO SPRACH ZARATHUSTRA - Introduction (1:40)
5. Louis Durey - SONATINE OP. 25 - Assez animé (3:15)
6. Francis Poulenc - CONCERTO FOR 2 PIANOS IN D MINOR - Finale (5:54)
7. Erik Satie - RELÂCHE - Acte 1 (8:48)
8. Arthur Honegger - SYMPHONIE NO. 1 - Allego marcato(5:55)
9. Germaine Tailleferre - SONATA FOR VIOLIN & PIANO - Scherzo (3:26)

Dedico o post de hoje ao meu estimado leitor Linguado - aficcionado por surrealismo submarino e filé marinado nas horas vagas. Um abraço, peixão!

21/05/2003

Era e não era,
imagina vancês,
eu andava viajâno,
eu andava corrêno o mundo.
Mas um dia,
pra um fim de surpresa,
arrecebia uma triste nova:
meu pai ia pra cova
e eu ia nascê.
Aquilo era estúpido,
mas o que fazê?
Saí numa disparada,
mas vortei.
Vortei pra trás.
No caminho eu perdi uma capa,
uma capa que eu não levava.
Mas, assim mesmo, valeu:
topei cuma árvore de figo
carregadinha de pêssego maduro.
Trepei por ela em riba
e destampei a comê maçã.
Nisso, veio o dono do feijoá e gritô:
'Ô, tinhoso,
como se atreve a apanhá pimentão mangaritibuxa?'
Eu ia arrespondê,
mas o danado agarrô num moio de repôio
e me sentô na testa.
Ô, festa!
Me esbandaiô o joêio.

(Poesia do Jeca, que me foi ensinada pelo meu pai, em 1979. Daí, talvez, tenha vindo meu fascínio pelo surrealismo...)

British Food, Paul Biddle

20/05/2003

Da hora do banho

Lebres tomam banho, não pensem vocês que não. Com muita água, muitos sais, esponjinha, sabonete, óleos, et cétera e tal. Entramos rastejantes, agonizando, pedindo 'uma água quente, por caridade...', e saímos flutuando em bolhas cor-de-rosa, ao som de Fly Me To The Moon. E todo dia tomo banho, não é ostentação. Sou quase uma lebre-do-mar.


(a lebre-do-mar)


Hoje, como todos os dias, fui ao meu banho. Naquele estado em que as lebres-do-mar ficam quando estão longe da água: murchinha e beirando o desfalecimento. Tamanha era a vontade de sentir gota por gota das gotas do meu chuveirinho. Arrastando a barriga no chão, deixando o rastro de lesma para trás, fui, belos movimentos contráteis, até o banheiro.

Só o fato de estar perto do box de banho já me animou a tirar a roupa. Não, não pensem numa coisa sensual. Estava com muita pressa, de modo que a blusa saiu pelos pés e a calça, pela cabeça. As peças iam caindo no chão, desmazeladas. "Nem confiança para elas! Que se lixe, quero mais é mesbaldááá! Pro diabo com os tênis TUF! TUF!"
A afobação faz isso com as pessoas. Tudo bem: com as pessoas que amam a arte do banho.

Exatamente como vim ao mundo, já começava a ouvir Frank Sinatra. Passei a mão nas minhas 2 toalhas (é verdade, uso duas: uma para o corpo, outra para enrolar as orelhas, que ficam pingando nas costas) e entrei no box. Liguei a água morninha: "ahhh... Que maravilha...! O mundo já pode acabar." E estou assim, quase entrando em alfa, beta, gama, delta e todas as outras letras estrangeiras, quando, olhando para a janela do 2º andar, o que eu vejo?

?


ARNALDO.



(pausa dramática)

(fim da pausa dramática) Ele mesmo, o Arnaldo. Acontece que minha casa está em reformas, cheia de pedreiros para todos os lados, batendo, furando, lixando, comendo, pintando e tudo mais que os pedreiros fazem.
E o Arnaldo é um deles.
Arnaldo, o incumbido de limpar as calhas.
Arnaldo e aquela escadona horrorosa dele.
Arnaldo e aquela carinha de cearense, e aquela voz engraçada, e aquele chapeuzinho de couro dele.
O ARNALDO E AQUELA MALDITA CALHA!
Com tanta calha no mundo - e, inclusive, em volta da minha casa tem muita calha - ele decidiu limpar, justamente, a que passa na frente da janela do banheiro. Por sorte, a janela é alta, e tudo o que ele pôde vislumbrar foi minha cabecinha feliz e espumante. Mas e o susto? E vai que Arnaldo decide que altitude pouca é bobagem e resolve subir uns degraus?

Não tive dúvida: bolhas desprendendo da cabeça, toalhinha enrolada e cara roxa de raiva, abri a janela e botei meu dedinho nervoso para fora:

- Oi, Cstchâni, como vai? (Arnaldo falando.)

- (dedinho em riste) VOCÊ NÃO DECIDIU COMEÇAR A LIMPAR JUSTAMENTE POR ESTA CALHA, NÃO, NÉ ARNALDO???????

- (Arnaldo, alheio ao meu dedinho, às bolinhas de sabão da minha cabeça e aos meus gritos) Hehe... Vamo trabaiá, né?

- (dedinho que, de tão em riste, já tremia) VOCÊ NÃO PODE LIMPAR ESSA DAQUI AGORA, ARNALDO! ESSA NÃO, NÉ, ARNALDO??

- É, uai, Cstchâni... Essa calha daqui, hehehehehe... (calmamente pegando um martelinho.)

- (mão espalmada) MAS ESCUTA AQUI, ARNALDO, VC NÃO 'TÁ VENDO A FUMAÇONA DE ÁGUA SAINDO DESSA JANELA, ARNALDO? DA JANELA DO MEU BANHEIRO, ARNALDO?

- Ah, num tem pobrema, viu, acho qu'éla num chega na calha não... (tóim!?)

- O PROBLEMA, ARNALDO, É QUE EU ESTOU USANDO MEU BANHEIRO, ENTENDE?? (mão fechada, golpeando no ar.)

- Ah, 'tá ocupada aí? (titím! - barulho da ficha de Arnaldo caindo) 'Tá tomâno banho? AH, VOCÊ 'TÁ PELADA??(essa última, para todos os pedreiros ouvirem.)

- 'TOU, ARNALDO! (mão tentando acertar a escada, para causar um pequeno acidente ao Arnaldo), SAI DAQUI COM ESSA ESCADA, ARNALDO!

17/05/2003

Pela pele tola
o rastro impuro
de minha presença ambígua.
Sob os cílios imundos,
os silêncios parcos
de meu corpo desfeito.
Entre as pernas suplicantes,
úmidos vestígios
do beijo incontido.
Mãos adentro,
meu cio irrefletido
estupra a solidão
de seu afago.

(Agostina Akeme Sasaoka, Marcas)



(Alessandro Bavari, Birsa Symposium)

_________________


Em tempo:

Dois vivas ao mau humor:
  • Do Estelionato e Outras Fraudes, do descrente 171;
  • Lanterna de Diógenes, do azedo Caco.
  • 16/05/2003

    Ouvindo agora: Tom Jobim.
    Sabiá (inglês)
    Olha Maria (instrumental)


    _____________


    Esse baixel nas praias derrotado
    Foi nas ondas Narciso presumido;
    Esse farol nos céus escurecido
    Foi do monte libré, gala do prado.

    Esse nácar em cinzas desatado
    Foi vistoso pavão de Abril florido;
    Esse Estio em Vesúvios encendido
    Foi Zéfiro suave, em doce agrado.

    Se a nau, o Sol, a rosa, a Primavera
    Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
    Sentem nos auges de um alento vago,

    Olha, cego mortal, e considera
    Que és rosa, Primavera, Sol, baixel,
    Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.

    (Francisco de Vasconcelos (1665-1723), Fenix Renascida III)



    (St. Michel, Eclipse)

    Contribuição poética:

    Dia após dia rasga o céu negro cometa
    Meu coração batuca ao sol d'anti-matéria
    Lusco no fusco de africânica Sibéria
    Festa que escorre em sumo as frestas do planeta.

    Do núcleo ardente à longa calda ensolarada
    Noite após noite, meio-dia, a céu aberto
    Quero-te a raça, mon amour, tê-la por perto
    Tinge-me duma sintilante Madrugada.

    Que tua cor me corresponda à flor da pele
    Se tanto enfim me conceder o engenho e arte
    Roubo-te o coração, deusa da minha rua.

    Presumo apenas o melhor, madamoisele
    Se não puder preta, por ti, chegar a Marte
    Me refugio no lado escuro da Lua.

    (Carlos Saraiva, sem título)

    14/05/2003

    De que me serve fugir
    De morte, dor e perigo,
    Se me eu levo comigo?


    Tenho-me persuadido,
    Por razão conveniente,
    Que não posso ser contente,
    Pois que pude ser nascido.
    Anda sempre tão unido
    O meu tormento comigo,
    Que eu mesmo sou meu perigo.

    E, se de mi me livrasse,
    Nenhum gosto me seria.
    Quem, não sendo eu, não teria
    Mal que esse bem me tirasse?
    Força é logo que assim passe:
    Ou com desgosto comigo,
    Ou sem gosto e sem perigo.

    (Luís Vaz de Camões, Tenho-me Persuadido)

    Max Dupain, Doll’s Head & Goat Skull - 1935

    Em tempo:
    "A liberdade jamais significou licença para se fazer qualquer coisa, à vontade."
    (Mahatma Ghandi)

    "As pessoas são, em geral, tão felizes quanto decidem ser."
    (Abraham Lincoln)

    "Não importa o quão difícil tenha sido o passado. Podemos sempre recomeçar."
    (J. Kornfield)

    13/05/2003

    Não estou escrevendo muito para os senhores leitores deste blargh ultimamente, mas não é de desdém, não, é por falta de tempo. Recramações na mesa do boss. Prometo dar escapadinhas.

    A Lebrinha

    12/05/2003

    Presentinho enviado por Majarti:

    Viajar! Perder países!
    Ser outro constantemente
    Por a alma não ter raízes
    De viver de ver sómente!
    Não pertencer nem a mim!
    Ir em frente, ir a seguir
    A ausência de ter um fim,
    E da ânsia de o conseguir!
    Viajar assim é viagem.
    Mas faço-o sem ter de meu
    Mais que o sonho da passagem
    O resto é só terra e céu.
    Tenho dó das estrêlas
    Luzindo há tanto tempo,
    Há tanto tempo...
    Tenho dó delas.
    Não haverá um cansaço
    Das coisas
    De tôdas as coisas,
    Como das pernas ou de um braço?
    De um cansaço de existir,
    De ser,
    Só de ser,
    O ser triste brilhar ou sorrir...
    Não haverá, enfim,
    Para as coisas que são,
    Não a morte, mas sim
    Uma outra espécie de fim,
    Ou uma grande razão -
    Qualquer coisa assim
    Como um perdão?

    (Fernando Pessoa)

    09/05/2003

    Brainstorming

    Tio Towelie: ...
    Cris: Tenho dó dos albaneses...

    Tio Towelie: E dos bosníaco???
    Cris: Tamém!
    Tio Towelie:
    Cris:

    Tio Towelie: Eles passam dias e dias sem tomá milkshake de strawberry do macdonaldo!
    Cris: Eles não consome meias Lupo!

    Tio Towelie: Eles não vão ao estádio todo o domingo chingá o juiz de fiadaputa!
    Cris: Eles detesta piôio!

    Tio Towelie: Eles são barrigudo mas não é nem de cerveja nem de comida!

    Cris: Eles tapa os furo das têia das casa com bosta de vaca!

    Tio Towelie: Quando chegá fucksgiving eu vô mandá um peru pra eles!
    Cris: Eu vou mandá meias Lupo!

    Tio Towelie: No deserto não cresce cogumelo e lá não tem peyote nem mescal nem nescau!
    Cris: Na páscoa eles come é os coêio!
    Tio Towelie: Só que eu só choro una lacrima:
    Cris: ...QUÂNO TEM COÊIO!!!

    Tio Towelie: Chuif...

    Cris:...

    Tio Towelie: Aqui não tem Chanel.
    Cris:Nem lá!

    08/05/2003

    Entrevista com a Lebre:

    1) Qual sua concepção de perfeita felicidade?
    * Encher todos os bolsos possíveis da sua roupa com enorme quantidade de bananas-nanicas, sair por aí e dar risada sem olhar pros dois lados.
    2) Qual seu maior medo?
    *Medo? Que ser isso?
    3) Com qual figura histórica você mais se identifica?
    * Bocage.
    4) Que pessoa (ainda viva) você mais admira?
    * Meu papaizinho. A Vera Loyola também, pela coragem de meter o carão de pequinês abusado em tudo que é revista.
    5) O que você menos gosta em sua aparência?
    * As orelhas. 'Pra que tanta orelha se ela não ouve'?
    6) Em que tipo de ocasião você mente?
    * Todas.
    7) Qual seu maior arrependimento?
    * Arrependimento? Que ser isso?
    8) O quê ou quem é o maior amor de sua vida?
    * Meu papaizinho e meu irmão-mata-baratas. E algumas outras pessoas.
    9) Se você pudesse mudar alguma coisa em sua família, o que seria?
    * O futuro.
    10) Qual sua ocupação favorita?
    * Encher todos os bolsos possíveis da minha roupa com enorme quantidade de bananas-nanicas, sair poraí e dar risada sem olhar pros dois lados.
    11) Quem é seu herói de ficção favorito?
    * Patolino.
    12) Qual seria sua maior realização ?
    * Conseguir trocar as bananas-nanicas por banana-prata...
    13) A música que faz você chorar ?
    * Qualquer uma de Waldique Soriano (mêda).
    14) Sua marca registrada ?
    *O piercing no nariz e a mania de dizer 'Inferno!'
    15) Você acredita em almas-gêmeas ?
    * Gêmeos múltiplos.
    16) Qual é a crença que te acompanha ?
    * De que amanhã vai ser outro dia.

    Entrevista com a Tartaruga Falsa:

    1) Qual sua concepção de perfeita felicidade?
    * Felicidade? Não entendi a pergunta...
    2) Qual seu maior medo?
    * Ficar sozinha no mundo - perder família, amigos, e a sanidade mental...
    3) Com qual figura histórica você mais se identifica?
    * Friedrich Wilhelm Nietzsche.
    4) Que pessoa (ainda viva) você mais admira?
    * Meu pai.
    5) O que você menos gosta em sua aparência?
    * Meu quadrilzão largo, meu nariz enorme, minhas pernas, minha cintura, meus pés, meu...
    6) Em que tipo de ocasião você mente?
    * Nunca.
    7) Qual seu maior arrependimento?
    * Me arrependo de quase tudo o que faço. Pelo simples fato de ficar matutando como teria sido, se tomasse outros caminhos.
    8) O quê ou quem é o maior amor de sua vida?
    * Pai e irmão.
    9) Se você pudesse mudar alguma coisa em sua família, o que seria?
    * O passado.
    10) Qual sua ocupação favorita?
    * Pensar.
    11) Quem é seu herói de ficção favorito?
    * Spawn.
    12) Qual seria sua maior realização ?
    * Escrever um livro.
    13) A música que faz você chorar ?
    * Carolina, de Chico Buarque de Holanda.
    14) Sua marca registrada ?
    * A anti-sociabilidade.
    15) Você acredita em almas-gêmeas ?
    * Não. Detestaria encontrar alguém igual a mim. Sairia morte.
    16) Qual é a crença que te acompanha ?
    * De que não haverá amanhã.

    Entrevista com Senhor Lagarta:

    1) Qual sua concepção de perfeita felicidade?
    * Fluoxetina.
    2) Qual seu maior medo?
    * A indecisão.
    3) Com qual figura histórica você mais se identifica?
    * Várias - dependende da ocasião.
    4) Que pessoa (ainda viva) você mais admira?
    * Meu pai.
    5) O que você menos gosta em sua aparência?
    * Meus músculos faciais: os da testa, quando estão contraídos, e os das bochechas, quando descontraídos.
    6) Em que tipo de ocasião você mente?
    * Várias vezes ao dia - maior parte das vezes, sem nem abrir a boca.
    7) Qual seu maior arrependimento?
    * Arrependimento remete ao passado pessoal, e sou voltado para o futuro (que nunca vem).
    8) O quê ou quem é o maior amor de sua vida?
    * Família.
    9) Se você pudesse mudar alguma coisa em sua família, o que seria?
    * Eu.
    10) Qual sua ocupação favorita?
    * Comer. Fumar. Conversar. Dormir (quando consigo, é ótimo). Fingir que sou uma pessoa produtiva e participante do mundo também me traz uma felicidade efêmera.
    11) Quem é seu herói de ficção favorito?
    * O Gato Caçoador.
    12) Qual seria sua maior realização ?
    * Estabilizar minhas oscilações emocionais e botar pra quebrar no mundo.
    13) A música que faz você chorar ?
    * As tristes.
    14) Sua marca registrada ?
    * Nem imagino.
    15) Você acredita em almas-gêmeas ?
    * Nop.
    16) Qual é a crença que te acompanha ?
    * De que amanhã vai vai dar na mesma - a vida, no fundo, é um disco furado.

    06/05/2003

    multiplapersonalidade

    - Como sabe que estou louca?
    - Você TEM que estar, caso contrário, não estaria aqui.
    - Já conheço isso de algum lugar...
    - Bote fé: todos aqui são loucos.
    - Já percebi. Mas não acho que compartilho desta loucura toda...
    - Pobressita...



    Alice perguntou: "Poderia me dizer qual caminho devo tomar para sair daqui?" "Isso depende bastante de onde você quer chegar", disse o gato.

    05/05/2003

    Do almoço.

    Acordei tarde e ainda sonhava com o maravilhoso bife/arroz/salada de rúcula do Bar do Marcelino. Estômago nas costas e língua encoberta pelo maravilhoso tempero imaginário da melhor comida caseira da região. Não tive tempo de comer no domingo, de modo que este sonho foi tudo o que coloquei na boca, desde o jantar de anteontem.

    É. Fome.

    O estômago subiu pelas costas, me agarrou pelos cabelos e me arrastou rumo à cozinha, dizendo entre os dentes: "vai comeeeeeer, aaaanda... &¨@$%*§...!".

    Assutada, percebi que ele não estava de brincadeira. Farejei o ar no trajeto - pelo menos vinha um cheiro de comida. "Ótimo", pensei. "Finalmente, bife/arroz/salada de rúcula, mesmo sem o Marcelino." Minhas glândulas salivares choravam de emoção.

    Abri a porta com um chute cinematográfico. Desespero. Precisava comer. Comer muito bife/arroz/salada de rúcula. Mas, pelo olhar maquiavélico da senhora dona minha mãe, pressenti que estava prestes a dar com os burros n'água.

    - Bife? Arroz? Salada de rúcula? - chamei, afoita.

    - HA! HAHA! HAHAHAHAHA! - foi a única resposta que ouvi, e veio da fazedeira-mor de comidas e quitutes, a detentora da chave de acesso ao misterioso mundo da cozinha, a senhora dona minha mãe - ENGROSSADO DE FRANGO! Hahahahahahahaaaar...

    - ?!? (Pasma. Mãos espalmadas. Queixo caído. Pálida. Glândulas salivares todas amuntuadas na janela da boca, tentando ver se tinha difunto nalguma sarjeta (as outras, distraídas, gritando "BIFE/ARROZ/SALADA DA RÚCULAAA!... CADÊ VOCÊÊÊ!... EU VIM AQUI SÓ-PRA-TI-VÊÊÊ!..."). Estômago pisoteando minha cabeça, dando coques, beslicões, tapas, dizendo entre os dentes "faça alguma coooisaaaaaa...!!!")

    - Come e não reclama.

    Depois que meu irmão mata-baratas saiu de casa, é sempre assim: fritura, comida requentada e restos de bolacha dura. Mas engrossado de frango?! É demais. Primeiro, que, de engrossado, não tinha nada. Tudo o que eu enchergava era uma água marronzinha com uns fiapos de frango, raquíticos, boiando feito afogados. Segundo, que meu estômago queria se estufar com alguma coisa, e aquilo passava longe do sonho alimentar do pobre.

    Cabisbaixa, voltei ao quarto. Calcei os sapatinhos de rubi, bati os pés 3 vezes: "Não há lugar como o Bar do Marcelino. Não há lugar como o Bar do Marcelino. Não há lugar como o Bar do Marcelino".
    Continuei no mesmo lugar.
    Meu estômago me chutou a orelha.

    04/05/2003

    Mais, para a fase Diálogos Quase Reais...

    Fonte de Surrealismo IV:

    Três pares e três situações:

    Dudu: Oi.
    Cris: Oi.
    Dudu: Vou passar reto. Só paro para desejar-lhe um péssimo dia.
    Cris: Obrigada pela atenção despendida.
    Dudu: Você me irrita.
    Cris: Eu percebo. A maneira como me evita ao máximo que consegue.
    Dudu: (riso)
    Cris: ...deve ser o amor.
    Dudu: É que você controla minha mente, esqueceu?
    Cris: Poisé. Esquecer, eu nunca esqueço.
    Dudu: Você é interessante, mas tem uns ataques de infantilidade.
    Cris: Então você deve ser algum tipo de pedófilo.
    Dudu: Você é totalmente irritante!
    Cris: E é por isso que você sente esta atração magnética.
    Dudu: Talvez sim.
    Cris: HAHAHAHAHAHA!
    Dudu: Você é ótima.
    Cris: Não, você que é.
    Dudu: Ah, esqueci que você é a dona da verdade.
    Cris: Absoluta. Verdade absoluta.
    Dudu: (risos)

    Amigo Virtual: Tome cuidado comigo... No passado já fui cafageste e estou tentando me recuperar. Quando ver minha foto, vai se apaixonar na hora. Sou belo e poderoso como um Deus grego.
    Cris: Sei. Deve ser Cérbero, o cão de 3 cabeças do inferno.

    Dudu: Que lindo isso. Você que fez?
    Cris: Não. Foi uma amiga que deu. Acho que ela tem tendências lésbicas.
    Dudu: Isso acontece porque você é envolvente.
    Cris: Pessoas são como amebas, Du - lançam pseudópodes. Elas tentam te fagocitar.

    03/05/2003

    Últimas do sabadão da Lebrinha:

    § Esdou beio respriada. Beu na'íz escorre. Dão sei se é poi causa do poeidão que levandou com a budança, naquele dal de emburra sopá p'á lá, enrola tapete p'á cá... Um terror.

    § Exageraram no sal da minha carne, estou virando um balãozinho. Terei de passar a negar meus dois maiores amores: carne e sal. Adeus, deleites alimentícios de outrora. Ficarão na saudade.



    § Li e pretendo continuar lendo:
    A Conspiração do Espelho, do meu caro dr Otto, que me faz dar risadinhas;
    Drops da Fal, pequenas gotas de frescor;
    Kaleidoscópio, da Dani, tão quase-balzaca quanto ieu;
    Minoria de Dois, do Senhor Lagarta Azul, vulga Cris, minha xará.

    § 15º C em Little Valleys! Tá frio ou oquê?! Nunca imaginei ver minha mulherzinha do tempo vestida de pullover vermelho. Essa danada ficou com cara de mulher-dama.

    § Fecho com este belo poema de Pessoa, graciosamente enviado por E-mail pela minha apaixonada Peixinha:

    "...o Amor, quando se revela..."

    O amor, quando se revela,
    Não se sabe revelar.
    Sabe bem olhar p'ra ela,
    Mas não lhe sabe falar.
    Quem quer dizer o que sente
    Não sabe o que há de dizer.
    Fala: parece que mente
    Cala: parece esquecer

    Ah, mas se ela adivinhasse,
    Se pudesse ouvir o olhar,
    E se um olhar lhe bastasse
    Pra saber que a estão a amar!
    Mas quem sente muito, cala;
    Quem quer dizer quanto sente
    Fica sem alma nem fala,
    Fica só, inteiramente!

    Mas se isto puder contar-lhe
    O que não lhe ouso contar,
    Já não terei que falar-lhe
    Porque lhe estou a falar...



    Mark Ryden, Snow White

    02/05/2003

    Fonte de Surrealismo 3

    Dudu: Oi Cris!
    Cris: Oi.
    Dudu: Tudo bem?
    Cris: Nop.
    Dudu: Não aproveitou o feriado para viajar?
    Cris: Nop.
    Dudu: Está doente ainda?
    Cris: Nop.
    Dudu: Você está quieta...
    Cris: Nop.
    Dudu: O que é 'nop'?
    Cris: É uma maneira curta e grossa de se falar 'não', finamente dita em inglês norteamericano.
    Dudu: Ahm, entendi...
    Cris: Eu duvido, mas tudo bem...
    Dudu: Duvido do quê? Você sempre me acha burro...
    Cris: Acho?
    Dudu: Demonstra... (riso)
    Cris: É você que está falando, mon petit chat gris...
    Dudu: Deixando sua TPM de lado, falemos de negócios. Estou fazendo uma pesquisa e preciso de sua ajuda.
    Cris: Dependendo, eu ajudo. Dependendo, eu não ajudo.
    Dudu: Sabe qual é o consumo mundial de tubos de aço sem costura?... (riso)
    Cris: Claro: 789 mil toneladas e uns quebrados.
    Dudu: Está falando sério?! De onde tirou esse número?!
    Cris: Sou a grande detentora de todas as verdades.
    Dudu: Estou ficando com medo de você - realmente, pelas minhas estimativas, o consumo é bem próximo disso...
    Cris: Calma, não tenha medo ainda. Eu ainda não defini os 'quebrados'...
    Dudu: Só preciso de um nome de credibilidade para poder passar aos investidores. Se colocar "Fonte: Cris" será que serve?
    Cris: Claro que serve. Quando souberem de que Cris você está falando, vão até chorar de emoção...
    Dudu: Mas espera. Este número é anual ou mensal?
    Cris: Anual, tonto. Esperava oquê? O esgotamento dos tubos do mundo? Isso seria 'gastar os tubos', literalmente...
    Dudu: Então você errou em alguns milhões. Essa é a estimativa mensal, sem contar o Iraque.
    Cris: Em Butão, é a anual...
    Dudu: Hahahahaha! Publicitários sempre sabem onde encontrar a informação certa, né?
    Cris: Óbvio.
    Dudu: (risos)
    Cris: ...Só não sabem falar dereito.
    (...)
    Dudu: Vai ter aula hoje?
    Cris: Nop.
    Dudu: Ai, Dio Cane...