26/09/2003

Conforme o prometido no post do dia 23 de Maio (entitulado Música e Surrealismo) e atendendo aos pedidos do meu caro leitor e entusiasta surrealista, o senhor Linguado, volto hoje com outro tema, igualmente desconhecido e olvidado pela maioria:



Arquitetura e Surrealismo

Assim como a arquitetura é um tipo de junção da engenharia com a arte, Antoni Gaudí promoveu a fusão da arquitetura Art Nouveau, o Gótico e o Surrealismo. É possível? E como é possível! Os repertórios utilizáveis da arquitetura estão intimamente relacionados com a arte, a filosofia, a ciência e a contínua evolução da sociedade, de modo que, mais uma vez, podemos encontrar o surrealismo lançando seus nubívagos braços também na arquitetura e urbanismo.



Casa Batlló

Casa Batlló - seus balcões parecem semoventes. Chaminés engraçadas e telhado ondulado. (Comparem à casa ao lado, que segue os padrões gerais encontrados em centros de cidades.)



Sagrada Família - Cinco torres da mais famosa construção de Gaudi - a catedral Sagrada Família, em Barcelona. Note o cipreste (um dos símbolos do cristianismo) talhado em pedra, ao centro, com pombas, representando os espíritos santos, alinhadas a ele - tudo em pedra.


Gargula-Iguana, Sagrada Família

Sagrada Família - Detalhes: Gárgulas em forma de iguana...


Gargulas-Caracois, Sagrada Família

...e em forma de caracóis.



Casa Mila

Casa Milà, La pedrera.


Casa Mila

Casa Milà, La pedrera - Detalhe: reparem nas formas do balcão e as ferragens.
Mensão Honrosa ao Gênero Insone:

Expulso a punção de mim
e me pergunto o que sobra
de tantas cinzas,
de tanto cinza...
Nada mais é sequer vermelho.


ou

Da pressão interna,
as entranhas em revolução.
E mordo o lábio inferior
- escorre sangue em meus dentes.
Os olhos fecham repetitiva e lentamente...
No ritmo frenético de estocadas.
O corpo todo treme em ânsia...
"and then it's nice and quiet".

09/09/2003

Do Fantasma

Apareceu.
Olhei. Olhei.
Falou:

- Desculpe. Não sabia que podia me ver.
- O que você quer?
- Nada. Estava só vendo como vão as coisas. Como vão as coisas?
- Vão indo. E você?
- Bem.
- Por que você resolveu assombrar?
- Não era esta minha intenção, apenas observava...
- Mas a sua visão me causa espanto.
- Sim...
- Por que você não some logo de uma vez? Por que vem aqui?
- Não sei, acho que não consegui me desligar.
- Mas como você pode ter ido embora e estar aqui ainda?
- Não sei.
- Desculpa, mas preferia que você sumisse. Eu não sei se vou conseguir conviver com você. Não é nada pessoal, só me deixa um pouco sufocada, meio confusa.
- Sei. É que está meio difícil seguir meu caminho. Temos um vínculo.
- Mas você se foi. Como pode ser? Não queria ter ido?
- Queria, mas...
- Me desculpe, mas não sei o que eu posso fazer. Se pudesse trazer de volta, faria com o maior prazer. Mas não sei. Posso trazê-lo de volta?
- Não, creio que não.
- Então o que faço?
- Mate-me.
- Como?
- Julgue-me e condene-me.
- Não posso, não detenho este poder. Lamento.
- Idiota.
- ...
- Nós não deixamos de lado nossas loucuras quando nos afantasmamos.
- Vai assombrar outra pessoa. Você pode.
- Podia, mas acho que é assim, como uma compulsão - quando vejo, já estou aqui.
- Então se desfantasma. Você pode?
- Poder eu posso. Não sei se quero.
- Eu não quero você afantasmado. Ou você se desfantasma, ou então vai pro inferno.
- Preferia ficar. Lá vou sentir vazio.
- Só vou ficar eu. Quem vai querer estar comigo com você por aqui? As pessoas vão ter medo. Longe daqui deve ter outros como você, vocês se farão companhia.

Sumiu como tinha aparecido, mas depois voltou.
Fiz que não o via, parecia meio confuso.
Achei que o melhor seria deixá-lo crer que não via.