09/09/2003

Do Fantasma

Apareceu.
Olhei. Olhei.
Falou:

- Desculpe. Não sabia que podia me ver.
- O que você quer?
- Nada. Estava só vendo como vão as coisas. Como vão as coisas?
- Vão indo. E você?
- Bem.
- Por que você resolveu assombrar?
- Não era esta minha intenção, apenas observava...
- Mas a sua visão me causa espanto.
- Sim...
- Por que você não some logo de uma vez? Por que vem aqui?
- Não sei, acho que não consegui me desligar.
- Mas como você pode ter ido embora e estar aqui ainda?
- Não sei.
- Desculpa, mas preferia que você sumisse. Eu não sei se vou conseguir conviver com você. Não é nada pessoal, só me deixa um pouco sufocada, meio confusa.
- Sei. É que está meio difícil seguir meu caminho. Temos um vínculo.
- Mas você se foi. Como pode ser? Não queria ter ido?
- Queria, mas...
- Me desculpe, mas não sei o que eu posso fazer. Se pudesse trazer de volta, faria com o maior prazer. Mas não sei. Posso trazê-lo de volta?
- Não, creio que não.
- Então o que faço?
- Mate-me.
- Como?
- Julgue-me e condene-me.
- Não posso, não detenho este poder. Lamento.
- Idiota.
- ...
- Nós não deixamos de lado nossas loucuras quando nos afantasmamos.
- Vai assombrar outra pessoa. Você pode.
- Podia, mas acho que é assim, como uma compulsão - quando vejo, já estou aqui.
- Então se desfantasma. Você pode?
- Poder eu posso. Não sei se quero.
- Eu não quero você afantasmado. Ou você se desfantasma, ou então vai pro inferno.
- Preferia ficar. Lá vou sentir vazio.
- Só vou ficar eu. Quem vai querer estar comigo com você por aqui? As pessoas vão ter medo. Longe daqui deve ter outros como você, vocês se farão companhia.

Sumiu como tinha aparecido, mas depois voltou.
Fiz que não o via, parecia meio confuso.
Achei que o melhor seria deixá-lo crer que não via.

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