23/03/2004

fugit irreparabile tempus

Conheceram-se ao acaso, num desses acasos que a Internet propicia.
Em pouco tempo tornaram-se bem próximos.
Não a proximidade de apaixonados virtuais, mas sim aquela mais palpável, a proximidade da amizade.
Ele era o tipo que gostava de falar e ela de ouvir.
Ele angustiado, ela tranquilizadora.
Algumas vezes, trocavam de lugar - era ele quem ouvia as angústias dela e, assim, sentiam-se mais e mais unidos.
Chegou, enfim, o dia de concretizarem a amizade, encontrando-se fora do mundo virtual.
Como esperado, sentiram, no abraço que trocaram, como se há muito se conhecessem.
Ela tinha tanto a lhe dizer, tantas coisas a contar, mas notou que aquele era um de seus dias ruins, que ele não estava para ouvir, mas sim para ser ouvido.
Ofereceu-se para ouvi-lo.
Ele, então, falou de toda sua angústia, angústia vinda de tantos pensamentos que lhe vinham à mente.
Pensava em tantas coisas, na fome do mundo, nas guerras, na intolerância, enfim, em todos os males da humanidade e se angustiava por não saber como ajudar e por não conseguir parar de pensar em tantas coisas ao mesmo tempo.
O coração dela apertou com o sofrimento dele.
Puxou-o em sua direção, recostando-lhe a cabeça em seu ombro.
Então, com um gesto de extremo amor, abriu-lhe a cabeça para que seus pensamentos pudessem escapar.

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