Para diminuir esta dívida com meus curiosos leitores, dedico este post à música.
Música e Surrealismo
Quais músicas surrealistas você conhece?
Nenhuma?
Hmmm... Acho que é aí que você se engana. Existem algumas músicas muito populares que recebem a classificação de surrealistas. Já ouviu o Boléro, de Maurice Ravel? Esta é a mais popular do estilo - difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido o famoso Bolero de Ravel. Além dela temos Assim Falou Zaratustra (Also Sprach Zarathustra), de Strauss, a Sinfonia N.º 1 (Symphonie N.º 1), de Honegger e outras tantas.
Surpreso?
Eu sei que alguns leitores travaram na parte do texto em que menciono ‘Bolero de Ravel’. "Tanto tempo ouvindo essa música, como nunca soube que é surrealista? Essa lebre deveria parar de falar incongruências e ir roer uma cenoura, cavar um buraco..."
Simples, meu caro - vou explicar tudinho para o senhor, mastigar o conceito e regurgitar na sua boca, relaxe e acompanhe...
Da mesma maneira que classificamos um quadro ou um texto como surrealista, podemos classificar uma música. Ela não precisa ter nascido junto com o movimento surrealista, na época exata de Breton e Dalí. Textos, pinturas e músicas surrealistas são produzidos até hoje; o estilo não morre, ele apenas classifica. Muitas pessoas não entendem exatamente quais conceitos definem uma escultura ou um quadro como sendo surreal - mesmo sendo as artes plásticas a modalidade mais conhecida e alardeada do estilo - apenas têm uma vaga intuição de que tais obras recebam este nome, só de bater o olho. Se assim ocorre com pinturas, que são concretas, palpáveis, imagine o que acontece com a música, que é muito mais sutil e requer muitos outros conhecimentos que vão além do que é visível... As pessoas apenas ouvem, sentem, gostam e pronto.
Então...
Como posso classificar uma música como surrealista? Conceitos
O Surrealismo foi um dos mais importantes movimentos do século XX. Baseia-se no princípio de que a imaginação não deve ter amarras e prima pela busca da centelha da poesia, pelas entrelinhas do inconsciente que margeiam o cotidiano e o lugar comum.
Junto com o Surrealismo, surgiu uma nova era na música, com grande força de impacto e disseminação, na primeira parte do século XX: uma era futurista. Apesar de não ter existido uma escola unificada do surrealismo para a música, muitos compositores do início da década de 20 até o fim dos anos 40 exploraram temas de examinância do fantástico, do onírico e do subconsciente, da mesma forma que os artistas e intelectuais daquela época. E estes resultados mudaram a história.
Sonoramente falando, este é um tipo de música evocativo, provocativo, forte e temperamental, mas que, geralmente, mantém um senso melódico e uma referência honesta à tradição clássica.
Para saciar totalmente a sua curiosidade, deixo aqui a sugestão de uma boa coletânea do gênero surreal:
Music of Surrealism - Desire Unbound
1. Darius Milhaud - LE CARNAVAL D'AIX FOR PIANO & ORCHESTRA - mvmts. 1-4 (6:32)
2. Bela Bartók - CONCERTO FOR ORCHESTRA - Giuoco delle Coppie (6:40)
3. Maurice Ravel - BOLÉRO (13:35)
4. Richard Strauss - ALSO SPRACH ZARATHUSTRA - Introduction (1:40)
5. Louis Durey - SONATINE OP. 25 - Assez animé (3:15)
6. Francis Poulenc - CONCERTO FOR 2 PIANOS IN D MINOR - Finale (5:54)
7. Erik Satie - RELÂCHE - Acte 1 (8:48)
8. Arthur Honegger - SYMPHONIE NO. 1 - Allego marcato(5:55)
9. Germaine Tailleferre - SONATA FOR VIOLIN & PIANO - Scherzo (3:26)
Dedico o post de hoje ao meu estimado leitor Linguado - aficcionado por surrealismo submarino e filé marinado nas horas vagas. Um abraço, peixão!
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