Surrealismo Dos Atos

MOMENTO REFRESCO I

O tema deste Momento Refresco é publicidade ( eu prometi não falar em trabalho. Mas não vou, fiquem olhando).

Depois de longa data sem ver meu estimado irmão (aquele, que mata baratas), finalmente, neste fim de semana, recebi deleitosa visita deste figura*. Passamos algum tempo juntos, conversando sobre variedades, discutindo bobagens, abordando temas randômicos da esfera assuntática de menor valia e, é claro, fazendo nosso brainstorm**.
Acontece que nossos brainstormings são a única parte realmente útil de nossa comunicação. São nos nossos momentos de devaneio exacerado que exercitamos nossa criatividade na maneira fraterna da condição irmanal, o que nos é muito útil - de minha parte, por questões profissionais e da dele, idem - além de mata-baratas (função primordial e principal) era arquiteto de horas vagas (agora, arquiteto em tempo integral).
Pois bem. Neste precioso momento, depois de filosofar longa e detidamente acerca de vários temas, chegamos à conclusão de que não entendemos o porquê do slogan do wisky Johnny Walker. A idéa do "keep walking" (continue andando) nos pareceu dura e até levemente depressiva.



Keep Walking, Johny... A imagem do cara que batalha a vida toda e comemora suas vitórias tomando um wisky on the rocks, para continuar trabalhando, passou longe da nossa compreensão, pois optamos por encarar o tema pelo lado negro - passar a vida toda camelando para conseguir comprar um Johny Walker, convenhamos, beira o humor negro.
E, já que é assim a dura realidade, criamos os roteiros de 4 novas inserções para TV - sempre lembrando o malfadado slogan. Queiram, pois, visualizar as seguintes situações:

Um fiel de Nosso Senhor Jesus Cristo caminha por uma longa avenida de Honolulu, chutando miséria e imundice e batendo freneticamente contra as costas uma corda bordada de cacos de vidro, numa dessas promessas de 6ª feira Santa. Quando está quase chegando na igreja, cai de joelhos, as costas em carne viva, já a ponto de desistir. Nesta hora, aparece Johny Walker, bebendo um copo de wisky on the rocks. Ele pega o crente pelo braço, empurra-o carinhosamente na direção da igreja e diz:
- Keep Walking.
O fiel torna à imolação e segue, meio sorrindo, meio chorando de dor, meio embasbacado com as estranhas roupas de Johny.
Fim do filme 1.

O casal de turistas atravessa uma fina ponte de cordas e bambus em uma rain forest, para chegar ao lado oposto de uma altíssima garganta de cachoeira, quando percebem que a ponte começa a se desfazer sob seus pés. Ao olharem para trás, reconhecem Johny Walker, que está serrando as cordas e tomando um wisky on the rocks. Ele ri e berra:
- Keep Walking!
Os turistas começam a correr, apavorados.
Fim do filme 2.

O prisioneiro está com os braços amarrados e tem diante de si um trampolim. De um lado, vê o mar, infinito, tempestuoso e infestado de tubarões. Do outro, vê o pirata Johny Walker caolho, que segura com uma mão um copo de wisky on the rocks e, com a outra, uma espada afiadíssima. Ele diz:
- Keep Walking! Har har har!
O infeliz prisioneiro segue.
Fim do filme 3.

O homem sério acaba de retirar uma enorme quantia em dinheiro no caixa eletrônico do banco de interior, quando sente algo duro em suas costas. Assustado, ele olha para trás e vê um homem com uma meia na cabeça e trajes de caça inglês, na cor vermelha. O tal homem aperta uma Magnun na sua dorsal. Com a outra mão, segura um wisky on the rocks. Ele diz num tom baixo e soturno:
- Keep Walking.
Fim do filme 4.

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*Poisé, ele não mora mais comigo. Está morando na capitar. Sabem o que isso significa? Que estarei frita nos dias quentes, quando as baratas vêm à tona diretamente do inferno para minhas pernas, braços, ou pior: c a b e l o.
Não quero nem pensar. Mas quem matará as baratas, agora?!?

**Brainstorming (tempestade cerebral): ferramenta comumente utilizada pelos publicitários-criadores para - adivinhem só - criar. Consiste na reunião de duas ou mais pessoas que começam a dizer tudo o que lhes vem à mente sobre determinado assunto, baseados em um problema, sem restrições, discriminações, obtemperanças nem repressões por parte de nenhum dos participantes. Sim, pode ser comparado àquilo que você e seus colegas fazem quando estão bêbados ou, em tosca comparação, ao dito "falar merda" entre amigos chegados.